Como sobreviver a uma festinha de aniversário?

Como sobreviver a uma festinha de aniversário?

Por Marcelo Tas


Aniversário é uma vez por ano, ainda bem. Nunca tive atração especial por essa data tão esperada pela maioria das pessoas. Ansiedade, abraços efusivos de desconhecidos, roupas novas desconfortáveis, cabelo excessivamente penteado, casa cheia demais, beliscões na bochecha… são minhas memórias dos aniversários na infância.

Nasci quase no mesmo dia que uma prima querida, a Regina, que morava na casa ao lado. Durante algum tempo tive a sorte de dividir com ela o fardo de ser o aniversariante da vez, já que nossas mamães tiveram a brilhante ideia de juntar as duas festinhas numa só. Depois, já naquela idade que as turmas de meninos e meninas não se misturavam, me vi sozinho diante da árdua tarefa de enfrentar as velinhas do bolo, para mim verdadeiros holofotes, uma exposição absolutamente dispensável e desnecessária, pensava eu.

Divido este assunto psicanalítico com vocês na tentativa de descobrir como planejar melhor o aniversário dos filhos, tarefa que nos dias atuais pode atingir uma complexidade preocupante. Antes, a festinha era resolvida praticamente dentro de casa: bolo, salgadinhos, refrigerantes e fôlego para encher os balões de ar. Aí surgiram as festas temáticas, o convitinho personalizado, os brindes… Depois vieram: o buffet infantil, os animadores, os mágicos, o DJ, o aluguel de brinquedos especiais, as bandas cover, tatuadores, a equipe de filmagem, os manipuladores de fantoches, show com animais… Uma produção digna de uma noite no Cirque du Soleil.

Este ano, com a cumplicidade da Bel, minha mulher, resolvi questionar: por que nós, pais, às vezes, nos deixamos levar pelo impulso maluco de transformar a festinha de aniversário dos filhos numa megaprodução a serviço do… do… do que mesmo?

Com a perigosa aproximação dos 10 anos de Miguel, tivemos uma ideia genial: perguntar ao próprio como ele queria passar a data. O cara tinha tudo na ponta da língua: convidar amigos mais chegados para dormir em casa no final de semana, ir com eles ao cinema e, OK, depois comprar um bolo para apagar as velinhas. Acabamos convidando alguns pais dos envolvidos e amigos avulsos para um almoção de domingo e tudo acabou virando uma grande celebração de adultos e crianças.

Agora, chegou a vez de Clarice completar seis primaveras. Diante da mesma pergunta ela disparou sem pestanejar:

– Uma festa no buffet!

Nunca imaginei que a fedelha soubesse da existência dessa palavra: buffet! Bel correu atrás de opções, digamos assim, as mais suaves possíveis: um buffet do tipo alternativo, quase vegetariano! Como dá para perceber, não somos adeptos de muito barulho, nem do estilo hollywoodiano de se comemorar aniversário de criança.

Clarice fez questão de conhecer previamente o lugar. Diante da tímida e solitária árvore que ocupava o centro do lugar, sugerido por Bel, Clarice argumentou com tranquilidade e firmeza:

– Mamãe, este é um buffet “natureza”. Eu gosto de natureza. Mas daquela natureza que tem lá no sítio. Pro meu aniversário, quero um lugar com paredes pintadas com nuvens, luzes, carrinho que anda no teto… eu quero um buffet “internet”.

Recado entendido. Já estamos nos preparando para a “festa internet” de Clarice, seja lá o que isso for. Se sobreviver, eu conto.
MARCELO TAS é jornalista e comunicador de TV. Tem três filhos: Luiza, 22 anos, Miguel, 10, e Clarice, 5. É âncora do “CQC” e autor do Blog do Tas. Aceita com gratidão críticas e sugestões sobre essa coluna no e-mail: crescer@marcelotas.com.br  
















Fonte: revistacrescer.globo.com

2 comentários:

  1. Marcelo Tas é um cara, como muitos outros, genial.
    É muito verdade o que ele descreve, porém faltou descrever a famosa "festa surpresa"!
    Sempre fui fã de festa surpresa, não só de planejar uma para alguém, mas principalmente de que planejassem para mim e quero dividir sobre uma que aconteceu comigo.

    Nunca me esquecerei de uma festa surpresa que meus pais aprontaram para mim num hotel onde estávamos hospedados - nasci perto de uma data festiva nacional, então muitas vezes meu aniversário acontecia no meio do tal fim de semana prolongado.
    De qualquer forma, me lembro bem que minha mãe foi a encarregada de me distrair enquanto os "tios"da recreação, meus irmão, meus pais e todas as crianças do hotel me esperavam numa espécie de teatro que lá tinha. O plano foi de mestre, minha mãe ficou comigo na sala de jogos gastando fichas nos fliperamas e depois, como quem está curiosa, me convenceu a mostrar o que tinha atrás de uma porta.
    Me lembro que não quis mostrar, queria ficar no fliperama. Disse a ela que era só o teatro, mas ela insistiu quase que me empurrando para irmos.
    Essa tal porta levava nada mais nada menos que ao palco do tal teatro.
    Na sequência conhecida das festas surpresa, vieram as luzes, o susto, a cara de ?? e, claro, o parabéns.

    Beijos

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  2. É muito legal mesmo uma festa-surpresa.
    Me fizeram uma em 2008. Como eu não costumava comemorar, meus amigos resolveram q me fariam comemorar mesmo q eu nao soubesse.
    UM deles me convenceu a ir num bar sob o pretexto de que precisava muito conversar, trocar uma idéia e eu como sou amigo há uns belos 10 anos, fui já imaginando q ele iria me dizer q a namorada dele (na época) estaria grávida.
    Qdo entrei no bar, vi um amigo e nem me toquei, pensei "q coincidência, Fulano tb tá aqui" e qdo fui subindo, vi outro, outra e de repente: "Feliz Aniversário !!!".
    Inesquecível a festa e mais ainda os amigos q tenho.

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